Mochilas e tênis - um estilo de vida |
Se tudo der certo, neste fim de mês começa o quarto Mochilão
de Julho. Será o quarto em quatro anos consecutivos. O Mochilão, de uma forma
geral consiste em uma viagem por vários lugares com a mochila na costa, sem o
contrato de um roteiro com agência turística para reservar hotéis, pousadas e
passeios em grupo com guia de viagem. Significa, enfim viajar ao sabor da
aventura intuitiva de desbravar o desconhecido com algumas informações e pouco
dinheiro no bolso.
No primeiro ano eu e Angela, minha esposa, apaixonados por
viagens, mochilamos pelo Rio de Janeiro e Sâo Paulo, incluindo cidades
litorâneas do interior. O mote havia sido a Festa Literária de Paraty. Antes disso, tínhamos feito juntos outros
mochilões mais curtos pelo Piauí (Encontro dos Rios em Teresina, Parque
Nacional de Sete Cidades, Cachoeira do Urubu e Parnaíba) e Ceará (Parque
Nacional Serra de Ubajara, Viçosa do Ceará, Tiaguá, Festival de Jazz e Blues de
Guaramiranga) além de vários destinos no Maranhão.
Museu do Licor, Viçosa do Ceará. (2009) |
O curioso é que
ambos, antes de nos conhecermos, já tínhamos mochilões bem surrados pelos
bagageiros de ônibus e esteiras de aeroportos. Angela já havia andado pelo Rio,
Ceará, Bahia e Pará. E eu havia viajado bastante pelo Maranhão, além de vários lugares do Brasil e a rota dos Descobrimentos Portugueses em Portugal (2009).
No segundo Mochilão de Julho, saímos em lua de mel de São
Luís para Porto Alegre com uma escala em Florianópolis. Alguns dias na capital
gaúcha e seguimos de ônibus para o Uruguai (Punta del Leste, Montevideo e Colonia del Sacramento). Não
sabíamos nada de espanhol - aprendemos o
que era desayuno no café da manhã do
ônibus.
Santiago, Chile. (2010) |
Sem nos intimidar com as barreiras culturais fomos indo em
direção a Buenos Aires onde passamos muito sufoco para comer: “tengo fome!”,
dizia ao invés do correto “tengo hambre”, fora os falsos cognatos usados
inadequadamente. Media luna, tango, parrillada e lá vamos nós atravessando a
Cordilheira dos Andes, passando pelo gelado Aconcágua em direção ao Chile. A
neve, Santiago, Val Paraíso, Vinã del Mar e o ouvido um pouco mais treinado para o idioma local, o diálogo portunhol
fluindo e a crescente convicção de começar a estudar e aprender a língua para
explorar o vasto continente sul-americano. Estavam definidos os próximos
destinos.
Voltamos para o Brasil pela Serra Gaúcha (Gramado, Canela,
Bento Gonçalves, Farroupilha, Carlos Barbosa) e para o calor do Maranhão. Um
ano de planejamento lendo guias, mapas, relatos de outros viajantes, assistindo
documentários para formatar a segunda parte do Mochilão para América do Sul
andina: Bolívia e Peru, e ainda o Paraguai.
Em julho de 2011 saímos de São Luís para Campo Grande de
avião, e de lá para Corumbá, atravessando o Pantanal sul mato-grossense de
ônibus intermunicipal. De ônibus municipal seguimos até a fronteira da Bolívia
cruzada a pé. De táxi até a estação de trem de Quijarro. E lá estávamos nós no
mítico Trem da Morte. Nele, seguimos pela Bolívia até Santa Cruz de la Sierra,
depois de ônibus até a altitude de La Paz e o lago Titicaca em Copacabana. Atravessamos para o Peru, Puno
(Ilhas Flutuantes de Los Uros), Cuzco, Machu Picchu e o Vale Sagrado dos Incas.
Ilhas flutuantes dos índios Uros, Puno, Peru. (2011) |
De volta à Bolívia visitamos a tranqüila Sucre e a histórica
mina de Potosí. Até voltar a La Paz, seguir por Cochabamba e Santa Cruz de la
Sierra de novo. Entramos no Paraguai de avião aproveitando o baixo valor das
passagens aéreas bolivianas, para de ônibus novamente cruzar a fronteira brasileira
até Foz do Iguaçu. De avião finalmente o retorno para São Luís via Curitiba.
Quando se pega o gosto de viajar ao sabor do vento, mesmo
que somente durante um mês de férias ou até mesmo um feriado prolongado é
impossível parar, coisa de vício mesmo. Não é uma atividade barata, e às vezes
as viagens longas de ônibus e as conexões aéreas são muito cansativas. É
preciso muita persistência e força de vontade para manter um projeto durante o
ano inteiro. Tudo é uma questão de escolha, foco e economia.
A motivação dos Mochilões geralmente é histórica e cultural
com visita a patrimônios históricos e museus, mas sem deixar de aproveitar
praias ou outras atividades de aventura. Somos um casal essencialmente diurno,
o que nos permite focar nos pontos de interesse da viagem. Tudo é registrado na
Nikon d 5000 ou numa portátil (mais discreta que usamos em lugares com maior
risco de assalto). O material é compartilhado pelo tuíter e agora também
facebook instantaneamente onde há
conexão wi-fi durante a viagem e depois viram postagens do blog Marcus
Histórico e do álbum do Flickr.
Compartilhando a viagem na internet. (2011) |
Este ano a subida do dólar ameaça o roteiro que foi pensado
no final do Mochilão passado. As passagens foram compradas em dezembro do ano
passado. Começamos num roteiro aéreo São Luís-Boa Vista e de lá vocês terão que
nos seguir para saber no que vai dar. Às vezes, tudo tá na cabeça e no papel e
de repente muda: aquela cidade, aquele país, aquela trilha, aquela praia,
aquele museu...
O que não muda é espírito desbravador e aventureiro que sempre
fala mais alto. Sempre perguntam: qual a melhor cidade? O melhor lugar? E
sempre respondo: - o próximo! Posso dar
dicas e recomendações de vários lugares, mas o próximo destino é sempre o
melhor.
Fica a dica: leia e inspire-se. Fim de junho começa o
Mochilão.
Eita que dá vontade de encher a mochila velha de tralha e me juntar a vocês. Parabéns e divirtam-se!
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