Foto: Divulgação
Fotógrafo Márcio Vasconcelos expõe trabalho sobre Terecô na Casa de Nhozinho
Terecô é a denominação dada à religião
afro-brasileira tradicional de Codó – uma das
principais cidades maranhenses, localizada
na zona do cerrado, na bacia do rio Itapecuru,
a mais de 300 km de São Luís. É também conhecido por “Encantaria de Barba
Soêra” ou Bárbara Soeira (entidade sincretizada
com Santa Bárbara) e por Tambor da Mata, ou simplesmente
Mata (em alusão à sua origem rural ou para diferençá-lo da Mina surgida na capital).
Embora o Terecô tenha se originado de
práticas religiosas de escravos das fazendas de algodão de Codó e de suas
redondezas, sua matriz africana é ainda pouco conhecida. Apesar de exibir
elementos jeje e alguns nagô, sua identidade é mais afirmada em relação
à cultura banto (angola, cambinda) e sua língua ritual é, principalmente,
o português.
Geralmente no Terecô os pais e mães de santo são também
curadores, embora existam na região “raizeiros”, preparadores de “mezinhas”,
que são ali mais conhecidos por “cientistas” (doutores do mato) do que por
terecozeiros, macumbeiros ou umbandistas.
Em Codó, tanto no passado como na atualidade, alguns terecozeiros ficaram
também famosos realizando “trabalhos de magia” por solicitação de clientes ávidos
de vingança, de políticos, ou de outras pessoas dispostas a pagar por eles elevadas
somas, o que lhe valeu a fama de “terra do feitiço”. Afirma-se que nesses “trabalhos”
e práticas terapêuticas os terecozeiros associam à sabedoria herdada de velhos
africanos, conhecimentos indígenas, práticas do catimbó, da feitiçaria europeia
e que também se apoiam no Tambor de Mina, na Umbanda e na Quimbanda.
No Terecô, como no Tambor de Mina, as entidades
espirituais são organizadas em famílias sendo a maior e mais importante
a da controvertida entidade espiritual Légua
Boji Boá da Trindade, apresentado em Codó
como “príncipe guerreiro”, filho de Dom Pedro Angassu (conhecido em São Luís
como o “representante de Xangô na Mata”) e como
“preto velho angolano”. Légua Boji é também apresentado em terreiros da capital
maranhense como vodum cambinda (Casa das Minas-Jeje),
ou como um misto de Légba (Exu) e do vodum jeje
Poliboji.
Embora no Terecô sejam cultuados voduns africanos jeje-nagô (como
Averequete, Sobô, Ewá), muito conhecido no Tambor de Mina da capital, os transes
ocorrem principalmente com “voduns da
Mata”. É bom lembrar que, não obstante ser o Terecô um culto
afro-brasileiro, nele as práticas curativas são muito desenvolvidas. Tudo
indica que o Terecô se organizou primeiro em povoados negros de Codó e de municípios vizinhos, mas só se tornou mais
conhecido depois que se desenvolveu na cidade de Codó. Segundo Costa
Eduardo, em 1943, no povoado de Santo Antônio dos Pretos, o Terecô era mais
conhecido por Pajé ou por Brinquedo de Santa Bárbara.
Durante algum tempo acreditamos
que a palavra Terecô poderia ter se originado da imitação
do som dos tambores da Mata (“terêcô, terêcô, terêcô”), em virtude de não havermos
encontramos nem Codó e nem em São Luís uma
definição etimológica paralela.
Mais recentemente a antropóloga e linguista baiana Yeda Pessoa de Castro
esclareceu que ela pode ser de origem
banto e ter sido derivada de “intelêkô” e ter o mesmo significado
que Candomblé.
A memória dos codoenses registra uma fase inicial
do Terecô em que os negros das fazendas de
algodão do Município de Codó realizavam seus rituais religiosos na “mata do
coco babaçu”, longe da vista dos senhores, em seguida, após a abolição da escravatura,
quando os negros da cidade realizavam seus rituais às margens da Lagoa do Pajeleiro,
às escondidas da polícia, com quem entravam frequentemente em conflito. Contudo,
analisando-se
os relatórios da Missão Folclórica, criada por Mário de Andrade, que percorreu
o Norte e Nordeste no final da década de 30, a “linha de Codó” já marcava sua
presença em terreiros de Mina de São Luís (Maximiana), de Belém (Sátiro), e que
surgiu no Pará com o nome Babassuê.
Embora muito temidas,
as entidades do Terecô são depositárias de grande confiança e
encaradas como defensoras pelos terecozeiros.
Mundicarno Ferretti
Antropóloga
O Exposição
Levando em consideração a importância e o
misticismo da cidade de Codó (MA) dentro do culto à religião de matriz
africana, que nesta região ganhou a denominação de Terecô, e a grandiosidade da
maior festa da umbanda do Maranhão, promovida pelo Mestre Bita do Barão de
Guaré, o
Projeto “Terecô – a Magia dos Tambores
da Mata Codoense” tem como objetivo realizar uma pesquisa e uma
documentação fotográfica, sob a forma de um ensaio artístico, durante todo o
ciclo do Festejo dos Santos e Orixás da Tenda Espírita de Umbanda Rainha
Iemanjá de propriedade do sacerdote citado, um dos mais influentes babalorixás
do Maranhão e que acontece anualmente no mês de agosto em Codó, autodefinida
como a “capital mundial da feitiçaria”.
Além
do Terreiro do Mestre Bita serão também pesquisados e fotografados rituais e
celebrações em outros templos de semelhante importância dentro deste culto afro
maranhense, tais como as casas de Maria do Santo, Domingos Paiva, Aluízio Mota
e, no povoado quilombola de Santo Antônio dos Pretos, o terreiro de Irene e
Ivone Moreira, que no dia dedicado a Santo Antônio promove uma grande festa em
homenagem ao padroeiro do lugar.
O Fotógrafo
MárcioVasconcelos, fotógrafo profissional independente há mais de 20 anos e há quase uma
década vem se dedicando a registrar as manifestações da Cultura Popular e
Religiosa dos afro-descendentes no Estado do Maranhão.
Autor do projeto Nagon Abioton – Um Estudo Fotográfico e Histórico sobre a Casa de Nagô, aprovado na Lei Rouanet e no
Programa Petrobras Cultural/2009, editado na forma de livro sobre um dos
terreiros mais antigos do Tambor de Mina no Maranhão.
Vencedor do 1º Prêmio Nacional de
Expressões Culturais Afro-brasileiras/2010 (Fundação Cultural
Palmares/Petrobras) com o projeto Zeladores
de Voduns do Benin ao Maranhão. Exposição Fotográfica que mostra as
semelhanças entre Sacerdotes de culto a voduns na África e no Brasil.
Selecionado para leitura de portfólios no
Trasatlantica/PhotoEspaña 2012 com o projeto Zeladores de Voduns do Benin ao Maranhão.
Vencedor do XI Prêmio Funarte Marc
Ferrez de Fotografia com o projeto Na
Trilha do Cangaço – Um Ensaio pelo Sertão que Lampião pisou.
Finalista do Prêmio Conrado Wessel
2011 com o projeto Na Trilha do Cangaço
– Um Ensaio pelo Sertão que Lampião pisou.
Serviço:
Terecô
– A Magia dos Tambores da Mata Codoense
Exposição Fotográfica de
Márcio Vasconcelos
Projeto aprovado no Edital Universal de Apoio
a Cultura Maranhense
Local:
Casa de Museu Casa de Nhozinho
Rua
Portugal, 185 – Centro Histórico - São Luís – MA - (98) 3218-9951
Visitação:
Terça a domingo, 9h às 18h
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terça-feira, 5 de junho de 2012
Exposição fotográfica revela o Terecô e a Magia dos Tambores da Mata Codoense
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