Foram 19 mesas literárias com duas horas de duração em média. Na Tenda dos Autores ou na Tenda do Telão uma platéia eclética acompanhava seus autores preferidos, descobria novos talentos ou apenas tirava onda.
Abaixo, minha seleção de alguns fragmentos, algumas "cenas de alumbramentos", da Festa Literária de Paraty que este ano homenageou o poeta pernambucano Manuel Bandeira.
O que está anotado no meu caderno de viagem
* O texto arrebatador de Domingos de Oliveira na Mesa Separações que merece um post à parte, então, por enquanto, destaco apenas uma frase da sua fala pós-texto:
"O meu amor é meu e eu dou para quem eu quiser".
* "Verdades Inventadas: essa é a melhor definição para literatura".
Sérgio Rodrigues, na mesa "Verdade Inventadas".
* "Nem a gente conhece a China , nem eles conhecem direito o ocidente. A visão deles do ocidente (os chineses) é como uma obra de Picasso."
Xinran, jornalista chinesa radicada em Londres, na mesa "Pequim em Coma".
* Richard Dawkins na sessão de perguntas ao final da palestra:
- O que o senhor diria diante de Deus se o encontrasse depois da morte?
Curto silêncio e grande expectativa do público, Dawkins responde:
- Eu perguntaria: qual deus é você? Zeus, Mitra, Odin, Thor, Apolo, um deus asteca, africano?... Não há evidências para que você seja Deus.
O público vai ao delírio!
* "Para escrever é preciso ter um desafio secreto para tudo e todos, muitos vão querer lhe derrubar..."
"Eu não frequentei universidades, mas sim a drogaria que eu trabalhava."
"Nunca deixei de considerar as fontes profundas. Não há regras, a não ser a grandeza e a verdade".
Edna O´Brien, na mesa "Sentidos da Transgressão".
Sobre seu autor preferido, ela disse: "Nós traímos os autores que amamos, a literatura que amamos. O que lemos hoje, não queremos ler amanhã. Então não temos autor preferido."
* "Não mandei um dublê para o Brasil para não perder a viagem." Mário Bellatin, artista mexicano que enviou dublês para representar grandes artistas mexicanos numa exposição na França. Na mesa "O Eu Profundo e os Outros Eus".
* "Sempre achei que as pessoas comuns são extraordinárias. Sou um repórter da parte interior de uma relação." Gay Talese, jornalista americano na mesa "Fama e Anonimato".
* "Meu pai lia poetas brasileiros para nós. Em seu leito de morte disse nos deixar o amor pelas coisas belas." Antônio Lobo Antunes, escritor português - um dos maiores ficcionistas da atualidade segundo a crítica.* Pergunta da platéia:
- Qual será o nome do nosso tempo?
responde o historiador Simon Schama, na mesa "O Futuro da América":
- É o nome que detesto pronunciar, mas é o nome de "Final da Terra", ao menos que façamos algo para mudar.
* "Vivemos numa sociedade que é mais permissiva, mas sempre haverá elementos para transgredir. Mas podemos ter certeza que que a natureza humana vai criar outros tabus." Catharine Millet (autora dos livros a "Vida de Catherine M.", onde descrve sua vida sexual e "A Outra Vida de Catharine M.", onde trata de uma crise de ciúme num casamento de relação aberta que mantem com seu marido.
* "Todo brasileiro tem duas terras: aquela que nasceu e o Rio de Janeiro". Professor e escritor, Édson Néry da Fonseca.
O que não está anotado no meu caderno de viagens:
* O champanhe oferecido pelo patrocinador no show de abertura da FLIP.
* Adrana Calcanhoto com músicas e palavras - voz cristalina, violoncelo, violão, guitarra, bateria e poemas de Manuel Bandeira. Apresentou canções do novo trabalho "Maré" (segunda parte de uma trilogia), canções que tocam no rádio que gostaria de ter feito e as canções que tocam no rádio que fez.
- Mas que platéia bem comportada!
Foi o suficiente para todo mundo esquentar pra valer dentro e fora da tenda.* Antônio Lobo Antunes, profundamente emocionado com a "presença" do avô falecido que morou em Belém do Pará;
* Ingressos esgotados nos primeiros minutos de venda ainda no mês de junho obrigaram um grande público a espreitar a palestra do lado de fora, montar vigília em frente aos camarins e até escalar as estruturas metálicas daa tendas. Tudo isso, para ver Chico Buarque, "a noiva do casamento" (segundo Ângela Galvão), na mesa "Sequências Brasileiras";
* O frisson em torno da mesa "Entre Quatro Paredes" que juntaria pela primeira vez a artista francesa, Sophie Calle e seu ex, o escritor Grègoire Bouillier, depois do famoso "cuide-se", última frase do e-mail que inspirou uma exposição fotográfica. Sophie fotografou a reação de 107 mulheres de diferentes profissões à leitura do e-mail de rompimento enviado por Grègoire;
* Catharine Millet desviando-se com elegância do que seria óbvio: a psicanalista Maria Rita Khel insistindo no divã;
* Tatiana Salem Levy, uma jovem e talentosa escritora na tarde chuvosa de Paraty. Autora do premiado "A Chave da Casa" que mistura memórias com ficção, revisitando e reiventando o passado, fez parte da mesa "Verdades Inventadas" com Arnaldo Bloch e Sérgio Rodrigues. Um presente para quem pensa em escrever memórias da família.
* O público encantado com Edson Néry da Fonseca recitando de có, vários poemas de Manuel Bandeira.
* A leitura rápida e cortante, na mesa "Livro de Cabeceira" de Atiq Rahimi, escritor e cineasta afegão radicado na França, de quatro landays, poemas populares das mulheres pashtuns, que falam do "pequeno horroroso", apelido que dão aos maridos.
Texto: Marcus Saldanha
Foto: Ângela Galvão
Primo/irmão querido, tô sempre por aqui acompanhando o seu blog.
ResponderExcluirAvisa Ângela que Chico pode ser o que quiser, inclusive "a noiva do casamento". :-)
Grande abraço!!
Fernandinho
quero fazer um blog para divulgar meus desenhos...mais nao consigo porq?
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